ARTRITE REUMATÓIDE NO IDOSO: TREINAMENTO CONTRA RESISTÊNCIA COM PESOS COMO
UMA FORMA DE MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA
Por: Prof.º Esp.ª Fernando Dorigan
A artrite reumatoide
(AR) é uma doença inflamatória, crônica, autoimune, sistêmica e progressiva.
Atinge aproximadamente 0,5% a 1% da população mundial e predomina de duas a
três vezes mais no sexo feminino. No Brasil, foi encontrada prevalência de até
1% na população adulta, estimando-se em 1.300.000 o número de pessoas
acometidas, em que afeta com mais prevalência os indivíduos entre 40-60 anos.
Os sintomas mais
frequentes de pacientes com AR são dores e inflamação advindo da doença, em que
os pacientes acometidos pela doença também apresentam problemas psicológicos,
como ansiedade e depressão.
Estudos demonstram que a
evolução da AR está relacionada com a evolução e ou aumento da ansiedade e
depressão nos indivíduos, com uma prevalência de 13% a 47%, sendo que estes
transtornos são três vezes mais prevalentes em portadores de AR.
A reação inflamatória da
AR seria desencadeada pela apresentação de um antígeno à um linfócito sinovial
(LS) e a produção de mediadores inflamatórios como, interleucinas e citocinas.
Linfócios T CD4
positivos ou LS, são capazes de produzir citocinas, atraindo e ativando macrófagos,
em que, por sua vez, produzem citocinas de processo inflamatório como
interleucina (IL) 1 e fator de necrose tumoral (TNF). Além destas citocinas,
outras também ajudam a manter o processo inflamatório como, fatores de crescimento,
sinoviócitos, fibroblastos e células endoteliais. Outros estudos também demonstram
a participação dos linfócitos B e a deficiência de inibidores de de citocinas
(IL1, IL2 e TNF).
Em resposta a inflação
tissular, a membrana sinovial sofre modificações (HIPERTROFIA E HIPERPLASIA)
das células sinoviais e extensa neoangiogênise.
As
citocinas e fatores de crescimento produzidos durante o processo inflamatório,
como o fator derivado de plaquetas (PDGF), fator de crescimento de fibroblastos
(FGF) e o fator de transformação de crescimento beta (TGF-beta) facilitam o
influxo de células inflamatórias adicionais. Forma-se um infiltrado
linfocitário proeminente, podendo estabelecer-se verdadeiros folículos
linfoides, ricos em linfócitos T e plasmócitos, surgindo assim, a partir da
membrana sinovial, o pannus – tecido granulomatoso com características
tumorais, capaz de invadir e destruir os tecidos cartilaginoso e ósseo e
responsável pela extensa destruição articular frequentemente observada na AR.
As
propriedades destrutivas do pannus são relacionadas à produção de metaloproteinases
de matriz (MMP) e outras enzimas que são capazes de degradar colágeno e
proteoglicanos. Os neutrófilos mostram
tendência à compartimentalização na artrite reumatoide, constituindo a maior
parte do componente celular do líquido sinovial. Os neutrófilos são atraídos
para o líquido sinovial por citocinas produzidas pelo tecido sinovial, sendo as
mais importantes o fator de crescimento (TGF) beta e a IL-8, além dos clássicos
fator C5a do complemento e leucotrieno B4. Como resultado, observa-se acúmulo de
proteinases ativadas e metabólitos do oxigênio que contribuem para o processo.
A principal deficiência
funcional de pacientes com AR é a diminuição da qualidade de vida. Esta
qualidade de vida engloba todos os aspectos da vida humana, inclusive as
dimensões física.
Para isso a terapia com exercícios
contra resistência com pesos é fundamental para a preservação do movimento,
restauração do movimento perdido, aumento de força e resistência estática,
aumento da resistência dinâmica, melhora da sensação de bem estar, e promoção
da resistência cardiovascular.
A hipertrofia muscular é
um fator primordial para a proteção da articulação inflamada, corrigindo e
prevenindo desta maneira a perda e ou limitação do movimento articular, a
atrofia e fraqueza muscular e a instabilidade das articulações.
Pacientes com AR exibem
atrofia das fibras musculares tipo I e II, o que é exigido da musculatura
relacionada com uma articulação artrítica é que ela efetue breves atividades de
pressão dinâmicas ou estáticas, essenciais a funções básicas tais como levantar
uma xícara de chá, levantar-se ou sentar-se, etc. Estas são basicamente funções
de “levantamento de peso” associadas com atividades musculares do tipo II
(glicolíticas, anaeróbicas) que são capazes de contrações resistivas fortes e
curtas. Essas fibras são fortalecidas preferencialmente por contrações
isométricas.
Programas
de fortalecimento com pesos podem ser estáticos ou dinâmicos, ou uma combinação
de ambos. Estes levam à hipertrofia da fibra muscular e melhoram a força e a
função articular em pacientes com AR. Os exercícios isométricos ajudam a
prevenir a atrofia muscular; eles também produzem menos inflamação e menos
alteração na pressão intra-articular do que outras formas ou exercício de
resistência. Exercícios isométricos deve ser prescritos na fase inicial e ou inflamatória,
em que quando esta diminuir, poderá ser prescrito exercícios de contrações em
diversas angulações.
Estudos
atestaram que o treinamento contra resistência com pesos, ao contrário da
fisioterapia convencional, aumenta a massa muscular, a força muscular máxima e
os estímulos neurais em indivíduos com AR. A ativação neuromuscular em
exercícios terapêuticos convencionais versus exercícios contra resistência com
pesos, diagnosticou e chegou à conclusão de que os exercícios convencionais
produzem ativação neuromuscular abaixo dos 40- 60% necessários para estimular o
ganho de força muscular.
O treinamento contra resistência com pesos parece capaz de
modular, na vigência de um quadro inflamatório crônico anormal, a expressão de
citocinas pró-inflamatorias, moléculas de adesão solúveis e fatores
quimioatratantes. A utilização do treinamento com pesos em que o paciente
mantém um consumo de 70% VO2pico, durante seis meses, foi capaz de
atenuar a expressão local aumentada de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-1β,
IL-6) no músculo estriado esquelético. Ainda, alguns estudos têm demonstrado
alterações na concentração plasmática de IL-10 e IL-ra (receptor antagonista
para IL-1) após o exercício contra resistência com pesos de alta intensidade,
condição a qual pode contribuir ao milieu anti-inflamatório, e dessa forma, ser
um importante mediador dos efeitos anti-inflamatórios do treinamento físico. A
IL-10 pode atuar em diferentes tipos celulares e induz a supressão da resposta
inflamatória nos mais variados tipos celulares. Além disso, essa citocina tem
sido postulada como a principal molécula responsável pelo
"orquestramento" de reações inflamatórias, em particular a inibição
das alterações mediadas pelo TNF-α
Em
outra investigação, estudos compararam os efeitos clínicos de exercícios com
alta resistência (60% de 1 RM) e de exercícios com baixa resistência (10% de 1
RM) em pacientes com osteoartrite de joelhos. A carga era reavaliada a cada
duas semanas. Os autores não encontraram resultados diferentes estatisticamente
em relação a ganhos de força e função. Também foi investigado o ganho de força
muscular através do treinamento com exercícios de alta (90%), média (70%) e
baixa (50%) intensidade. A carga era reavaliada a cada duas semanas. Os autores
concluíram que o maior ganho de força ocorreu no grupo que recebeu treinamento
com exercícios de alta intensidade.
Em
outros estudos, pacientes foram instruídos a realizar exercícios em máquinas
para membros superiores e membros inferiores com três séries de oito
repetições, duas vezes por semana, durante 12 semanas, com carga de 80-85% de 1
RM. A cada duas semanas a RM era reavaliada. Os autores concluíram que esse
tipo de treino é viável e seguro para pacientes com doença controlada e mostrou
ganhos na força, diminuição da dor e fadiga, sem exacerbação da atividade da
doença.
Diante
destas considerações, podemos colocar que a prescrição do treinamento contra
resistência com pesos para pacientes com AR como forma de tratamento não
medicamentoso e para uma melhora em funções físicas e qualidade de vida, deve
ser executado de forma progressiva, desta forma implicando na da padronização e
individualização dos protocolos de prescrição do treinamento para que os
resultados do tratamento sejam otimizados e, mais que isso, para que esses
protocolos possam ser reproduzidos em estudos futuros.
Referências:
EKDAHL, C.; Anderson, S.I.; Moritz, U; Svensson,
B. Dynamic versus static training in patients with rheumatoid arthritis. Scand
J. 19:17-26,1990.
FEIGENBAUM. M; Pollock, M. Prescription of
resistance training for health and disease. Med Sci. Sports exerc.,
31:12-17,1999. FIATORE, M.A. physical activity and functional independence in
agin. Res. Q. exerc. sport.,67(suppl 3):70,1996.
GERBER, L.H. exercise and arthritis. Bull
rheum dis 39:1-9,1990. GOLDING, Douglas N. Reumatologia em Medicina e
Reabilitação. São Paulo, Atheneu, 1991.
HÄKKINEN, A.; SOKKA, T.; KOTANIEMI, A; HANNONEN,
P. A randomized two-year study of the effects of dynamic strengh training on
muscle strengh, disease activity, functional capacity and hone mineral density
in early rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum, 44(3):515-522, 2001.
SHARP, J.T. et al. Treatment with leflunomide slows radiographic progression of
rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum., 43(3):495-505, 2000 SATO,
E.I.; Shichikawa, K; Atra, E.; et al: Estudo da prevalência da artrite
reumatóide em população de origem japonesa em Mogi das Cruzes, São Paulo. Rev. Bras. Rheumatol, 30:133- 136,1990.
Munneke M, Jong Z, Zwinderman AH et al. High intensity exercise or
conventional exercise for patients with rheumatoid arthritis? Outcome
expectations of patients, rheumatologists, and physiotherapists. Ann Rheum Dis
2004; 63:804-8.
Graves JE, Franklin BA.
Treinamento Resistido na Saúde e Reabilitação. Rio de Janeiro: Revinter, 2006.
Taylor NF, Dodd KJ, Damiano DL. Progressive resistance exercise in
physical therapy: a summary of systematic reviews. Phys Ther 2005; 85:1208-23.
Andersen LL, Magnusson SP, Nielsen M, Hallem J, Poulsen K, Aagaard P.
Neuromuscular activation in conventional therapeutic exercises and heavy
resistance exercises: implications for rehabilitation. Phys Ther 2006; 86(5):683-97.

